EM PALCO ATÉ 8 DE JULHO
Encenação de Nuno Cardoso
4 a 8 de Julho
Sala experimental do Teatro Nacional D. Maria II
sempre às 19 horas.
Nuno Cardoso, depois de apresentar “Ricardo II” no Teatro Nacional D. Maria II, volta ao mesmo espaço com uma nova peça. “R2” não tem um texto decorado, vive da improvisação a partir de uma história memorizada e foi criada em conjunto com jovens de bairros desfavorecidos.
Em R2 transpõe-se o mundo dos reis e nobres de shakespeare para uma junta de freguesia. Na peça conta-se a história de um presidente da junta que governa mal e que é, finalmente deposto, sem eleições, pelo primo. O objectivo foi, acima de tudo, falar sobre o poder. O tema que perpassa na obra do dramaturgo inglês é o mesmo que se cruza com estes jovens, todos os dias.
A facilidade com que os jovens actores improvisam a cantar é a mesma que marca o ritmo dos ensaios. O texto não é decorado, apenas a ideia da história que querem contar foi memorizada. A partir daí nunca se sabe o que pode acontecer.
“É tudo improvisado e é isso que nos dá mais vontade de estar aqui. Sai tudo, é muito bom”, dizem.
O grande objectivo de Nuno Cardoso passa por isso mesmo. Depois de ter apresentado Ricardo II, de William Shakespeare, o encenador decidiu juntar um grupo de jovens que vivem na Cova da Moura, no Bairro do Zambujal e em outros bairros sociais e a partir daí criar um exercício que os permitisse descobrir o teatro e a magia da representação.
Nuno Cardoso garante que “não vai haver nenhuma apresentação que seja igual”. Outra particularidade de “R2” é usar o crioulo como linguagem, aproximando os jovens à sua cultura. Um dos intervenientes na peça confirma: “aprendi a conhecer-me a mim próprio, a conhecer-me ainda mais. É totalmente diferente, não tem nada a ver”.
R2
Paralelamente à encenação do espectáculo Ricardo II, Nuno Cardoso desenvolveu um trabalho com jovens de bairros carenciados do Casal dos Machados, Zambujal e Cova da Moura, alguns dos quais trabalham regularmente com o Grupo de Teatro do Oprimido* de Lisboa. R2 é o resultado.
Riqui é presidente de uma Junta de Freguesia e é avisado pelo Tio João que o seu primo Bernas e o seu assistente pessoal Mauro estão em disputa e esperam Riqui para que este os oiça e aja como juiz. Riqui recebe-os e Bernas explica que Mauro engravidou a sua namorada e rouba dinheiro à Junta, acusações estas que Mauro nega. Riqui tenta obrigá-los a fazer as pazes mas, não consegue e é marcado um combate no ginásio.
Mais tarde será revelado que foi Riqui quem engravidou a namorada de Bernas. Incapaz de julgar a disputa, Riqui interrompe o combate e, em nome da boa convivência, manda Bernas afastar-se por 9 meses e Mauro, para sempre, da freguesia. Resolvido o problema, Riqui resolve ir de férias prolongadas para o Brasil. O tio João, pai de Bernas, morre e Riqui usa o dinheiro do tio morto para fazer a viagem, deixando para trás a sua mulher e delegando a manutenção da freguesia à sua tia Joaquina.
Esta reacção revolta os populares que acusam Riqui de estar a roubar dinheiro à Junta para fins pessoais e, sobretudo, os maridos traídos por Riqui e pelas suas esposas. Sabendo disto, Bernas regressa passados poucos meses, sob a desculpa de querer a sua herança e apodera-se da Junta, despedindo a antiga administração de Riqui, excepto a tia Joaquina, que o apoia. Quando Riqui volta das férias, rapidamente percebe que perdeu a Junta e é forçado a passá-la a Bernas. Bernas toma a presidência da Junta e manda Riqui para uma prisão, onde será assassinado.
encenação Nuno Cardoso
cenografia F. Ribeiro
desenho de luz José Álvaro Correia
assistência de encenação Paula Garcia| Victor Hugo Pontes
mediação sócio-cultural Gisella Mendoza
estagiária (ESTC) Margarida Teixeira
Com:
BRUNO GAMBOA | CARLA VALDIGEM | CLÁUDIA ESPÍRITO SANTO | CRISTIANO SARAIVA | FÁBIA CORREIA | FLÁVIA ROCHA | ISA MONTEIRO | JANICE SARAIVA | MITUSCHA | PASCOAL MARTINS | QUINTINO FORTES | REGINALDO SPÍNOLA | SANDRA GOMES | VÍTOR MONTEIRO | WILLIAM BRANDÃO
Os intervenientes são jovens a desenvolver actividade de teatro fórum nos bairros: Casal dos Machados, Zambujal e Cova da Moura no âmbito do Projecto DiverCidade.
*Sobre o Teatro do Oprimido
O Teatro do Oprimido tem como objectivo transformar o espectador (ser passivo) em espect-actor (sujeito activo criador), foi concebido e desenvolvido pelo dramaturgo e encenador brasileiro Augusto Boal. Em Lisboa, o Grupo de Teatro do Oprimido trabalha na Amadora e desenvolve trabalho teatral com população afro-portuguesa, abordando temas como a prevenção da sida, a gravidez precoce, a discriminação ou a violência doméstica.
Contacto: gtolisboa@sapo.pt
Entrevista a Nuno Cardoso aqui
Entrevista a Gisella Mendoza do Teatro Oprimido aqui
Fonte: SIC e Teatro D. Maria II
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