O Reggae esteve na dianteira do desenvolvimento da música durante muito anos. Desde a Música de Dança Electrónica (House, Tenho e outros), à Pop, Punk, Disco e outros géneros de música variados actuais, consegue-se perceber a influência do Reggae vinda do seu núcleo. Um género de música que está directamente relacionado e está na sua base é o Hip-Hop, na sua vertente musical o Rap
Aqueles que são familiares com a história e as origens do Hip-Hop, sabe que essa cultura começou nos finais dos anos 1970 no bairro de Bronx, cidade de Nova Iorque. Os pais fundadores do movimento são o Dj Kool Herc, Afrika Bambatta e o Grandmaster Flash. Rega a história que o Dj Kool Herc começou a passar apenas a parte das músicas que as pessoas reagiam mais, as que tinham os breaks de bateria, mais mexidas e dançáveis.
Ora essa técnica é uma das várias usadas no Reggae e no Dub, criadas por mestres como o King Tubby, Lee Perry, entre muitos outros, nos estúdios de Kingston na Jamaica, terra de origem do Dj, que sempre creditou essas influências nas técnicas e o desenvolvimento dessa nova cultura.
O Reggae sempre praticou a arte do dubbing e do toasting no microfone, que têm uma ligação directa ao sampling e MCing (ou rapar). O Dubbing é a cópia de uma gravação para outra. O processo de usar material previamente gravado, modificar esse material e subsequentemente grava-la como uma nova mistura. Com efeito o processo de doubling ou “dubbing” o material, era e é utilizado pelos produtores jamaicanos na criação do Reggae e do Dub.
Foi nessa ilha caribenha onde o remix instrumental de uma canção foi iniciado, foi usado como lado B dos singles de 7”, com a canção original no lado A. Isso envolvia retirar quase todo o instrumental da música, vozes e melodia. Realçando a secção rítmica como base: a bateria e as linhas do baixo forte. Assim, o vocalista fazia o seu “toast” ou dizer umas coisas em cima do som (normalmente mensagens rastafari ou crítica política e social), do mesmo modo que um Mc do Hip-Hop pode fazer o seu freestyle sobre um instrumental previamente gravado.
Um dos arquitectos do Dub jamaicano, o bem conhecido Lee “Scratch” Perry teve a ideia de juntar efeitos de sons, como bebés a chorar, tiros, vidro a partir, vacas a mugir, etc. e daí o surgimento do sampling. Como se pode ver elementos do Hip-Hop tem o seu percurso nas técnicas que foram da Jamaica anos antes.
Inicialmente, os primeiros Djs na Jamaica agarravam no microfone para promover os álbuns ou destacar algum tema. O artista do Dancehall U-Roy foi dos primeiros a fazer o “toasting” com frases que encaixavam bem na estrutura da música bem como exclamações de “wows” e “yeahs” bem característicos da sua voz, que resultavam bem e ajudavam o ritmo, cimentando assim a sua personalidade com uma identidade musical própria.
É aqui uma das fontes vocais do rap. No Bronx um MC de nome Coke La Rock trabalhou ao lado do Dj Kool Herc animando o público, bem no estilo originário do Sound System Jamaicano do toasting. Ele não dizia frases líricas completas, como os rappers actuais, mas era um Mestre de Cerimónias que incitava o público, com palavras de motivação e slogans próprias de festa. É de certeza um dos primeiros MCs.
Desde o final de 1970 até 1980, o estilo do toasting progrediu na Jamaica e outros toasters (também chamados de Dee-Jays) como o Ranking Joe, Charlie Chaplin, Yellowman ou Eek a Mouse apareceram com um estilo mais lírico de rimas. Começaram a gravar canções em cima de riddims (faixas instrumentais) esparças, feitos por vários produtores como Henry “Junjo” Lawes, Linval Thompson, Gussie Clarke & Jah Thomas o que levou à criação do estilo Dancehall. Durante este período os discos desses Dee-Jays, tornaram-se mais importantes do que o Reggae tradicional, que dominou a ilha ao longo de vários anos. Outra tendência popular nesta época foi o Soundclash, que consistia em competições frente ao público, levado a cabo por Dee-Jays e os SoundSystems para ver quem tinha as melhores e mais chamativas musicas.
Esta tendência também influenciou directamente o Hip-Hop na medida que os dançarinos de break e os MCs de grupos diferentes desafiavam-se em competições para ver quem tinha as melhores rimas, movimentos de dança e habilidades técnicas. Isto tudo, veio permitir à juventude focar mais a sua atenção em actividades mais pacíficas do que a violência constante a que estava habituada nas cidades. Tanto os afro-americanos como os jamaicanos tinham em comum as agruras, sociais e económicas, diárias que passavam.
O final de 1980 e ao longo da década de 1990, foram anos importantes no cruzamento dos caminhos do Hip-Hop e do Reggae nos Estados Unidos. Apareceram muitos nomes no Hip-Hop desta fase: Boogie Down Productions, Poor Righteous Teachers, Just-Ice, Heavy-D & Jamalski que apimentavam os seus beats e rimas com o sabor do Reggae.
Esta também foi a fase em que muitas celebridades do Dancehall jamaicano, tais como: Shabba Ranks, Super Cat, Cutty Ranks, Buju Banton & Mad Cobra
estavam a assinar contratos de gravação com gravadoras americanas e começavam colaborações com artistas do Hip-Hop americano. Foi, por estas alturas, que nasceu a tendência muito popular das remixes de Reggae/Hip-Hop. Consistia em pegar na letra (acapella) de um tema popular de Reggae Dancehall e coloca-la em cima de um instrumental de Hip-Hop ou R&B conhecido. Hoje em dia esta técnica é referida como “mashup”.
Apesar desse cruzamento de Reggae/Hip-Hop ser mais dominante em Nova Iorque, Costa Leste dos EUA. A Costa Oeste teve a sua quota parte de artistas que, por vários anos, experimentaram esses mesmos ritmos.
Compilação Reggae Meets Hip Hop de Bobby Konders / Massive B
Traduzido e adaptado do texto de Lawrence Chatman.
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