ALVIN AILEY AMERICAN DANCE THEATRE

Jovens performers afro-americanos

A Alvin Ailey American Dance Theatre é considerada uma das principais companhias de dança moderna do mundo pelas suas produções enérgicas repletas de movimento e velocidade. A grande popularidade da companhia foi ganha logo no inicio, quando em 1958 um grupo de jovens performers afro-americanos, onde se encontrava também Alvin Ailey, subiu ao placo do “Young Men’s Hebrew Association” em Nova Iorque.

Esta primeira apresentação de Alvin Ailey tornou-se numa espécie de lenda por ter sido o ponto de partida para a vertiginosa ascensão que veio a desafiar o standard da dança no mundo. A mais viajada companhia do mundo já levou as suas performances a cerca de 70 países e a 48 Estados norte americanos. As apostas no futuro da Alvin Ailey são agora realizadas pela directora artística Judith Jamison, que espera inaugurar em 2004 o maior espaço cultural americano dedicado exclusivamente à dança.

VIDEO

No youtube tem vários videos das suas performances é só escolher.

FOTOS

(Judith Jamison dançando em Cry, 1976)

Conversa com Judith Jamison

Ninguém que tenha visto uma apresentação de Judith Jamison pode esquecer a figura alta e flexível, com braços que pareciam alcançar o espaço, e que trouxe reconhecimento significativo à dança, da forma como é executada pelos afro-americanos. Como dançarina do mundialmente aclamado Alvin Ailey American Dance Theatre de 1965 a 1980, Jamison estrelou peças marcantes — tais como a angustiada Cry e a exultante Revelations — que invariavelmente colocaram as platéias a seus pés. Os anos que passou no palco da companhia Ayley serviram de base para sua segunda carreira; desde 1989, ela é coreógrafa e diretora artística do Alvin Ailey American Dance Theater na cidade de Nova York.

P: O que aconteceu na última década que a emocione em relação à dança?

R: Em termos simples, o desenvolvimento mais importante é que há mais oportunidades para os bailarinos. Embora tenhamos companhias fechando e os financiamentos sejam escassos, a cada esquina há algum jovem coreógrafo que quer se arriscar. Isso nunca foi tão constante quanto agora. Tenho três amigos — um que é veterano, Donald Byrd, em Seattle — que estão lançando novas companhias agora. O mundo da dança se retrai, em seguida se expande. Simplesmente continua a respirar. O nível de qualidade subiu muito e há mais oportunidades.

Pode ser que não haja mais pioneiros como Alvin Ailey, e poderá não haver épocas como aquelas novamente. Mas como o chão foi fertilizado, os jovens sentem esta maravilhosa e criativa ânsia de dar sua contribuição — de que “também tenho algo a dizer”.

Em minha geração, há 30 anos, os bailarinos preenchiam seu tempo entre apresentações como garçons ou funcionários dos correios. Agora, os bailarinos dançam entre as apresentações. Na escola Ailey, por exemplo, temos workshops coreográficos para bailarinos. Eles percebem atualmente que a vida de um bailarino é curta. As gerações anteriores nunca pensaram dessa forma. Nos últimos 10 ou 20 anos, surgiu um sentido de urgência. “Tenho que fazer agora. Tenho que dar meu depoimento ao mundo o mais depressa possível.” Minha geração nunca se preocupou com a longevidade. Os bailarinos são tão espertos agora, planejando suas vidas e forçando seus limites de uma forma que não fazíamos há alguns anos.

P: A coreografia está tomando novas formas?

R: Acho que sim. Mas sempre espero pelo próximo profissional brilhante que vai surgir. Há muitas estrelas novas no horizonte, jovens coreógrafos que possuem o brilho, mas necessitam da exposição. Veja, por exemplo, Troy Powel da Ailey II, nossa companhia júnior. Ele tinha 10 anos quando Alvin o descobriu como parte de nosso programa externo para escolas. Mais tarde ele entrou para a Ailey II, e em seguida eu o trouxe para a companhia principal, onde permaneceu durante 10 anos. Ele tinha um objetivo. Queria coreografar. Como havia adquirido bastante conhecimento como aluno iniciante da Ailey, ele conseguiu. Agora é coreógrafo residente da Ailey II.

P: Sabemos que, historicamente, Alvin Ailey assimilou técnicas e idéias durante suas múltiplas viagens ao exterior para locais exóticos há muito tempo. Há influências estrangeiras afetando o cenário atual?

R: Penso que a situação se reverteu. Lembro-me que ia a discotecas na Europa quando estávamos em turnê e trazíamos dúzias de discos conosco, para levar a música para a Europa. Agora é o contrário. Houve uma evolução real, um retorno de nosso próprio material. As influências vão e vêm através dos oceanos. Somos muito influenciados uns pelos outros.

P: A dança atual ainda é dominada pelos gigantes criativos do passado — George Balanchine, Jerome Robbins, Martha Graham, Alvin Ailey — ou há novas forças em atividade?

R: Constantemente eu percebo novas forças, novos bailarinos, novas interpretações. Participei de Revelations em 1970. Eu o assisti com Alvin Ailey em 1963 — a mesma obra com interpretação diferente. Cada geração traz sua validação. Os bailarinos de cada geração dão um novo frescor às obras. Eles rejuvenescem a peça, que é brilhante de qualquer forma. A dança continua viva porque eles dançam.

Às duas horas da tarde, assisti a um grupo apresentando Revelations e hoje à noite verei outro apresentando a mesma peça. Enquanto eles acreditarem em sua arte e estiverem comprometidos com ela, transcenderão a idade da obra. Mas a obra deve ser brilhante. Desde que a pessoa seja influenciada pelo mundo e conheça a arte, haverá sempre alguma coisa nova. Se você quiser experimentar algum movimento da África Ocidental e acrescentar alguma dança de salão, repentinamente isso se torna algo novo. Há sempre alguém pisando fora da margem — e vão ficando cada vez mais jovens.

P: Estamos atravessando um período econômico um tanto incerto; como a dança enfrenta essa situação?

R: Você tem que tentar abrir caminho o tempo todo. Tudo é relativo — esteja você no começo ou com 45 anos. Mas eu ainda posso fazer, artisticamente falando, tudo que quero, com muita ajuda dos meus amigos.

P: Como você vê o desenvolvimento no campo da dança durante a próxima década?

R: Pode ser que haja alguns abandonando a idéia da dança como algo que vem de nosso interior. Pode ser que comecemos a nos direcionar para um caminho mais tecnológico, dependendo do rumo que o mundo tomar. O que é belo para mim até hoje é a dança que não é excessivamente produzida, de modo que possamos realmente ver a dança. Não quero que a dança seja excessivamente analisada sob o ponto de vista externo, perdendo o sentido interno de humanidade. Não tenho temor profundo em relação a isso, mas devemos sempre ficar atentos e compreender o que estamos fazendo como seres humanos, qual é o dom. Desde que nos atenhamos a esse tema, à expressão do espírito incorporada ao físico que é a dança, estaremos no bom caminho.

(A entrevista com Judith Jamison por Michael J. Bandler.)