Festival da Baía das Gatas
Dany Mariano recorda
Por tudo o que fizemos na altura como músico activo e bem activo, com toda a força da nossa juventude, amizade e vontade de fazer, em prol de uma nova música cabo-verdiana.
Junto com os meus colegas músicos Voginha, Vasco Martins, Vlú, Lúcio, Blimundo e Tony Miranda, e o staff administrativo dirigido pelo Daniel Medina em colaboração com Tchogass Barbosa e o incansável Tuguey, e os apoiantes Vestra e Cukss Barros na Galeria “Nho Djunga”.
Pelo que foi escrito pelo jornalista KZB aquando do XX Edição do Festival da Baía das Gatas, no jornal “A Semana” (Sexta-Feira, 11 Junho 2004, nº 665), com o título “Cachet dissonante”, e pela minha longa ausência nos festivais da Baía das Gatas por motivos desconhecidos por mim.
Foi com estranheza que tomámos conhecimento que a minha pessoa e demais companheiros dessa bonita aventura cultural não constavam na lista dos convidados a actuar no Festival 2006 em homenagem aos mentores da iniciativa, como tem sido hábito nas anteriores edições de homenagens aos músicos que ainda se encontram entre nós (que Deus lhes dê longa vida) e em que os homenageados foram sempre convidados a actuar.
A Génese do Festival da Baía das Gatas
Tendo recebido um convite, circular nº 06/ 84, datado de 08/02/84, do Sector Autónomo de São Vicente da JAAC-CV, assinado pelo 1º Secretario Sr. Eng. Ricardino Fonseca Neves, no âmbito das comemorações da V Semana Nacional da Juventude e em Saudação ao I Congresso da JAAC-CV, para participar no segundo Concurso Nacional “Todo Mundo Canta”, e que seria previsivelmente um grande Festival Nacional de Música e porque a oportunidade que teria era boa de apresentar as minhas novas propostas musicais que eu já tinha registado no meu 1º Disco a solo, com o título “Raízes”, que tinha sido gravado nos meados de 1982 e posto no mercado discográfico nos finais de 1983, aceitei.
Após ter sido classificado junto com o meu violão na 1ª prova da eliminatória regional, que foi realizada no antigo recinto da Praça Estrela, contactei o Voginha, que era meu vizinho e que se enquadrava perfeitamente nas minhas novas propostas musicais, para me acompanhar com um grupo electrónico, que seria formado com o parecer dele, na Final Regional e que seria realizada no pátio do Liceu Ludgero Lima. Entretanto, ele tinha-se desligado dos “Wings” e iniciado uma carreira a solo, com uma nova sonoridade e uma forma peculiar de tocar guitarra.
O Voginha aceitou o convite e sugeriu-me convidar o Vasco Martins, que tinha regressado de França após formação musical, mais o Lúcio (baixista), o Blimundo (baterista) e o Tony Miranda (percussionista), pois os cinco já vinham fazendo novas experiências musicais na galeria “Nhô Djunga”. Encaixavam-se no meu projecto, na opinião dele.
A meu pedido, o Voginha fez o convite ao Vasco, que não aceitou por razões que não recordo neste momento. Passados alguns dias, e a pedido do Voginha, reformulei de novo o convite pessoalmente ao Martins. Encontrei-me com ele, por mero acaso, no passeio à frente da antiga Casa da Moda, actualmente Restaurante/Cafeteria “Gaudi”. Á segunda aceitou, após conversa informal, sucedendo o mesmo aos outros elementos atrás citados (Lúcio, Blimundo e Tony Miranda).
Final do 2º Concurso Regional “Todo o mundo canta”
Após alguns ensaios na Galeria “Nhô Djunga”, chega o grande dia da Final do 2º Concurso Regional “Todo o mundo canta”. Entre os Jurados, constavam o Vlú e o Luís Morais. Apresentei duas composições minhas, “Mi ê dode na bô Cabo Verde” e “Mulata Coca-Cola”. Não me classifiquei para a final Nacional na Cidade da Praia, mas como a reacção do numeroso público, que enchia por completo aquele pátio – e principalmente a juventude presente –, foi calorosa e inesquecível, para mim as nossas propostas musicais tinham ficado em primeiro lugar.
Fui convidado de seguida, mais os outros elementos que me acompanharam, para dois concertos no ginásio do Liceu, pelos estudantes finalistas desse Pólo Educativo, para angariação de fundos para a tradicional Festa dos Finalistas. O grupo apresentou-se, com o nome de MDR (Movimento pâ Desenvolvimento de nôs Raízes) sob minha proposta, nesses dois concertos. Mas MDR foi sol de pouca dura. Procedeu-se naturalmente, após estes momentos atrás mencionados, à nossa consequente entrada na Galeria “Nhô Djunga”.
Com a euforia da juventude mindelense à nossa volta nos concertos semanais na Galeria, com a integração do Vlú no nosso grupo e sob contraproposta do Vasco, adoptámos um novo nome, o “Gota D’AGA”, que – segundo ele – a nossa música era uma gota no oceano musical de então e que representava melhor as nossas intenções.
A galeria “Nhô Djunga” era um espaço pequeno, tanta era a juventude, e não só, que afluía às nossas actuações, que passado pouco tempo realizámos um grande espectáculo no antigo recinto da Praça Estrela, no dia 26-04-1984, com o apoio e organização de Daniel Medina e o seu respectivo staff. O reportório era constituído por composições nossas. Os cartazes de propaganda do concerto diziam as seguintes frases: “A nova geração em concerto”; “Vlú, Dany Mariano e Gota d’Aga (Vasco Martins, Lúcio, Voginha, Blimundo e Tony Miranda) – Som, Luz, Movimento, Vida”.
Com “Nhô Djunga” ao rubro todas as semanas, a adrenalina aumentando cada vez mais, entre os músicos, o staff administrativo e o público, com o calor dos sucessos obtidos, o sangue corria nas nossas veias com alegria e euforia e as ambições eram cada vez maiores. Novos projectos foram aparecendo nas nossas mentes. O primeiro projecto era um espectáculo livre na Pracinha do antigo Liceu Gil Eanes e Ex-Escola Preparatória Jorge Barbosa e o segundo na praia da Laginha, ambos não concretizados.
De recordar que, em 1982, eu já tinha produzido e realizado um festival, talvez o primeiro em São Vicente e em Cabo Verde, no Eden Park, no dia 14 de Janeiro, pelas 21 horas, em que houve a participação de todos os conjuntos mindelenses – “Kings, Wings, Gaiatos, Progresso, Vikings” e o conjunto de Santo Antão “Seven Star”, mais a presença dos artistas “Zenaida, Vlú, Lutchinha e Djô Diloy”, com o titulo “FESTIVAL 82”.
Em 1983 houve a realização da 1ª Edição Nacional do Festival “Todo o Mundo Canta”, pela JAAC-CV. Em 1984, com o Verão se aproximando, nasce entre todo o núcleo da Galeria, músicos e staff administrativo, um novo projecto:
1º – Retirar a população do Mindelo das suas casas, uma vez por ano, durante dois dias no mês de Agosto, no período da Lua cheia, para uma praia distante da cidade.
2º – Solidariedade e Paz num encontro de música livre.
3º – Troca de novas experiências musicais, entre os músicos mindelenses e os convidados das outras ilhas e do estrangeiro.
E assim nasce a iniciativa do 1º Festival do género em Cabo Verde: O “FESTIVAL DA BAÍA DAS GATAS”
Nomeia-se uma comissão organizadora, presidida por Daniel Medina, em colaboração com os restantes membros do staff e mais pessoas exteriores á galeria. Após uma reunião com os músicos mindelenses, ficaram delineadas as directivas do programa e a marcação da data dos dois dias do festival, 18 e 19 de Agosto de 1984. As Entidades e Pessoas que garantiram a realização do 1º FESTIVAL DA BAÍA DAS GATAS:
- Secretariado Administrativo da São Vicente, na pessoa do Sr. Nelson Atanásio Santos;
- F.A.R.P., na pessoa do Sr. 1º Tenente Nuno Duarte
- MHOP, na pessoa do Sr. Eng. Gabriel Évora
- Casas comerciais e empresas de São Vicente
- Rádio Voz de São Vicente
- TVEC
- JAAC-CV
- Músicos participantes
- Juventude Mindelense
Os músicos e os grupos que participaram no 1º FESTIVAL DA BAÍA DAS GATAS
- Sábado, 18 de Agosto 1984: Gota d’Aga, Gotinha, Jon Lino, Sana Peppers, Adão Hidalgo, Lázaro, Vlú, Júlio Silva, Panai, Djô Cabelo, Häkan, Kings, Dany Mariano, Cubala, Vikings, Cesária Évora, Deolinda e Wings
- Domingo, 19 de Agosto 1984: Vlú, Djô Pedro, Lucas, Carlos Castro, Pinúria, Julio Silva, Alegoria do Mindelo, Zeca e Zequinha Magra, Arco Íris, Progresso, Gaiados, Djô Diloy, Kings, Gota d’Aga
A memória curta, o oportunismo, o egocentrismo, o egoísmo, a busca do colectivo em proveito do individualismo mesquinho e doentio, são os pais das inimizades. E, citando Baltasar Lopes da Silva, in Ponto & Virgula nº9, Maio/Junho de 1984: “Ao fim e ao cabo, o que se vê é que Capistrano de Abreu não conhecia o cabo-verdiano; dizia ele que o homem é naturalmente ingrato, mas que o brasileiro é o mais ingrato dos homens. Não, o ilustre historiador não conheceu o cabo-verdiano…”
Até breve. Um abraço musical
Dany Mariano
Fonte: O Liberal
julio Silva diz
Acho piada as historias que contam e escrevem sobre os fundadores do 1 Festival da Baía das Gatas.
Esqueceram-se de um dos grandes fundadores, o mais sacrificado juntamente com o Buli,o pianista chamado Julio Silva que fez parte de todo o processo e acompanhou mais de 50 artistas em palco. O Vasco Martins que apenas tocou as suas musicas e acompanhou o Vlú,devia ser mais sincero em relação aos fundadores.Houve uma dos nossos amigos que estava numa cadeira de rodas a qual me foge o nome no momento que actualmente vive na Holanda, foi a pessoa que teve a ideia de fazermos o Festival.Os ensaios como eram na galeria(Nho djunga) do pai do Vasco Martins Ele achou-se fundador. O Vlú e o Dany Mariano colaboraram e pouco compareciam as reuniões de programação e as suas participações em palco foram muito pequenas.Como a maior parte dos fundadores emigraram, várias pessoas surgiram a contar coisas não reais para se destacarem comprometendo a verdadeira história do 1º Festival da Baia das Gatas. Eu Julio Silva, falei com o Vasco sobre este assunto e ele me disse que houve enganos e esquecimentos quando lhe pediram para contar a história do 1º Festival.è importante ser-se honesto na história das origens.
Obrigado pela atenção
Julio Silva
Luís Carlos diz
Gostaria de ter a programação do festival da Baia das Gatas 2007. Como conseguirei?