Vasco Martins estuda a música de Cabo-Verde desde 1985, integrado no projecto «Recolha e Tratamento da Música Tradicional de Cabo-Verde», Instituto Nacional da Cultura de Cabo-Verde.
Durante 4 anos (1985/1989), fez a recolha e investigação sobre a Morna; um livro foi lançado, com o patrocinio da Unesco: «A música tradicional Cabo-Verdiana- 1, A Morna ».
Fez estudos ritmicos de temáticas tradicionais (que aplicou na sua música sinfónica,sobretudo «Danças de Câncer» e a «Sinfonia 5» ),debruçou-se sobre as Divinas de S.Nicolau e o compositor B.Léza; escreve actualmente um sobre as formas musicais existentes em Cabo-Verde, aspectos musicológicos,poéticos e históricos. Escreve um bio -poema de B.Léza que estará em breve on-line nesta página.
Compôs a música e o texto do CD «Coraçon Leve» cantado por Herminia, que saiu em Paris em 1997.Dez canções dentro dos géneros Morna, Valsa e Coladeira, constituindo hoje já uma referência musical e discográfica de referência.
A Morna – a evolução, por Vasco Martins (breves apontamentos)
1780 / 1850 (?)
BOA-VISTA
Tudo indica que a Morna nasceu na ilha da Boa-Vista, pelo menos uma espécie de proto-morna, com possíveis influências do «doce lundum chorado», vindo de Portugal e da «modinha» do Brasil. A Morna na Boa-Vista caracterizava-se(e ainda caracteriza-se) por um andamento mais rápido e de estilo rubato. Uma das primeiras mornas conhecidas foi «Babilona» provavelmente composta por Maninha Santos de Povoação Velha.
1890 (?)
BRAVA
1910/1950
Na ilha Brava, o compositor Eugénio Tavares, admirador da poesia ultra-romântica e do fado já emergente, compunha as suas Mornas tocando guitarra portuguesa , segundo testemunhos plausíveis. Para além das melodias singelas, reinventa o crioulo poético de canção, com muita elegância. José Bernardo Alfama, publica em 1910 um livro de Canções Crioulas em Lisboa, contendo algumas mornas «bravenses».
S. VICENTE
A ilha de S.Vicente tornou-se um Porto cosmopolita e próspero, devido sobretudo aos capitais financerios ingleses. A Morna, já cantada pela célebre cantadeira Selibana e temperada por Eugènio Tavares, evoluiu com os músicos Luís Rendall, Muchim d’Monte, Miguel Patáda, músicos virtuosos da «escola brasileira» . B.Léza, o mais representativo, compôs melodias com o suporte harmónico dos «meios-tons» (acordes de passagem ou modulativos entre acordes principais). As influências directas da canção brasileira e do tango, então muito na moda, foram decisivas para o amadurecimento estético da Morna.
1950 / 1960
Fase intermédia de compositores de talento, que se não foram inovadores e seguiram os passos de B.Léza, criaram no entanto Mornas de subtil traço melódico e sentimental: Lela de Maninha, Olavo Bilac, Luluzim, e sobretudo Jótamont (Jorge Monteiro), prolífero compositor .
1960 / 1970
Assiste-se , a partir de S.Vicente e Praia, a «electrificação» da música de Cabo-Verde, incluindo a Morna. O grupo «Voz de Cabo-Verde», foi o mais significativo. A rítmica da Morna, usualmente dada pelo cavaquinho , foi adaptada na bateria por Franck Cavaquim (que tocava, como o nome indica, cavaquinho!), mas também por Ti Goi .
Nascimento de uma nova »Morna» inspirada na «canção internacional» (bolero, canção americana – Nat King Colea, Franck Sinatra, por exemplo – canção francesa, canção espanhola, etc).
Manuel de Novas, é o mais representativo desta nova fase. Compositor de grande elegância melódica e de um estilo personificado .
A nova Morna
A partir de Manuel de Novas, os jovens compositores tiveram um exemplo. Nos anos 70/80, começaram a empregar sequências de acordes pouco usuais (sétimas maiores, por exemplo, como no caso de José Júlio Gonçalves). Entre eles destacam-se Dany Mariano, Ney Fernandes, Jorge Humberto, Tito Paris, Betu, Antero Simas e muitos outros.
Assiste-se actualmente a estilos muito pessoais, cada um buscando caminhos, o que pressupõe a maturidade da Morna, ou pelo menos do ser artista .
Vasco Martins
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