Cretcheu Futebol Clube (cultura, recreio e desporto). Associação cabo-verdiana de Almada, fundada em 1974, por imigrantes oriundos das ilhas de Cabo Verde.
A ideia era filmar a música cabo-verdiana
Inicialmente a ideia era irmos ao almoço de comemoração dos 41 anos de existência do Cretcheu FC, para filmar amigos a tocar música cabo-verdiana ao vivo.
Quando demos por nós, estávamos a captar depoimentos de sócios e amigo do clube o que iria resultar neste longo video de 23 minutos. Poderia ser mais longo ainda, mas assim está equilibrado.
Este gesto de captar imagens em video, daquela tarde especial em Almada, é um agradecimento nosso, uma homenagem a um grupo de pessoas que na altura certa tiveram a ousadia e lucidez de se juntarem e criar algo duradouro – hoje podem comemorar 41 anos de sabura.
Cretcheu FC como elo da cabo-verdianidade
Cretcheu FC foi grande nos seus tempos áureos. As suas festas eram concorridas, vinha gente de todos os lados para se enfiarem naquele pequeno espaço e conviverem até de manhã. Devem ter tido muitos problemas com a vizinhança por causa do barulho (sabemos que os cabo-verdianos quando se divertem, conseguem ser irritantes no seu excesso de sabura).
À semelhança de outros grupos recreativos em Portugal, tinham muita procura nesses anos de 1970, quando a televisão era cinzenta e a rádio nada diversificada. O Cretcheu FC era o elo mais próximo à convivência e cultura cabo-verdiana que havia.
Tanto servia os mais jovens nos seus engates, como os adultos na convivência com familiares e amigos. Havia nesses tempos laços familiares entre as pessoas que frequentavam o espaço, laços que ainda perduram entre alguns deles. Muitos viraram as costas ao Cretcheu FC por questões menores, ou mesmo pessoais – não é fácil gerir uma associação, como não é fácil a partilha de idéias e visões diferentes.
Cretcheu FC, 41 anos a fazer as pessoas felizes
O Cretcheu FC soube permanecer com dignidade e trabalho, poucos podem dizer o mesmo. A sua grande tarefa é servir de referência viva, ser catalizador da cabo-verdianidade, promover encontros – nunca são demais, são sempre poucos: para comer uma boa cachupa, beber um grogue de cana, falar crioulo, contar partidas, rir com gosto entre amigos, dançar um funaná ou uma coladeira e gritar de sabura, enquanto se puxa o lenço para limpar o suor na testa. Descer as escadas para a rua e “apanhar” um pouco de ar fresco, enquanto se dá uns dedos de conversa os amigos que vem fumar um cigarro.
Casas como esta, são locais quase sagrados. Fazem o mesmo que as igrejas: dão sentido à vida, acalmam as ansiedades da existência, mas são ainda mais importantes porque tornam as pessoas felizes, divertindo-as. Ora a Igreja não pode dizer o mesmo.
Deixe um comentário